Lácteos e Sustentabilidade
A sustentabilidade alimentar deve equilibrar saúde e preservação ambiental, considerando a densidade nutricional dos alimentos, ou seja, sua riqueza em nutrientes essenciais em relação ao valor calórico. Os lácteos destacam-se nesse aspecto, oferecendo cálcio, proteínas de alta qualidade e outros nutrientes com alta biodisponibilidade. A eficiência nutricional do leite e seus derivados e os seus benefícios para dietas equilibradas reforçam sua relevância em escolhas conscientes para um futuro sustentável.
A produção e o consumo de alimentos têm grande impacto ambiental, com desafios como emissões de gases de efeito estufa, uso excessivo de água, degradação do solo e perda de biodiversidade. Por isso, práticas sustentáveis ao longo da cadeia alimentar são essenciais. A sustentabilidade envolve atender às necessidades atuais sem comprometer as gerações futuras, equilibrando aspectos ambientais, econômicos e sociais, fundamentais também para a segurança alimentar e nutricional, que engloba saúde, preservação ambiental, comércio justo e acessibilidade alimentar.
A sustentabilidade no sistema alimentar global é um tema de crescente relevância, frente às mudanças climáticas, escassez de recursos e crescimento populacional, estimado em mais de nove bilhões até 2050, o que pressiona a disponibilidade de água e alimentos saudáveis. Além disso, o envelhecimento populacional e o aumento de doenças crônicas agravam esse cenário. A sustentabilidade alimentar deve integrar dimensões ambientais, sociais e econômicas, promovendo acesso a alimentos nutritivos, justiça social, dignidade dos trabalhadores, fortalecimento das economias locais e preservação cultural.
A sustentabilidade alimentar exige uma abordagem abrangente que considere as interconexões do sistema alimentar, indo além da simples comparação entre alimentos de origem vegetal e animal. Fatores como densidade e valor nutricional — definido pela composição, digestibilidade, biodisponibilidade e interação dos nutrientes — são indispensáveis para avaliar os impactos e benefícios de diferentes alimentos, incluindo os lácteos, que possuem alta biodisponibilidade de cálcio e proteínas de qualidade. Alimentos densos em nutrientes, ou seja, ricos em nutrientes em relação ao valor energético, são essenciais para alinhar saúde humana e preservação de recursos naturais, promovendo uma sustentabilidade alimentar eficaz.
A produção de lácteos gera impactos ambientais, como emissões de gases de efeito estufa, uso da água e degradação do solo. No entanto, comparações multidimensionais com alternativas vegetais, como bebidas de soja, amêndoas e aveia, destacam vantagens dos lácteos devido à sua maior densidade e à biodisponibilidade de nutrientes. Embora alternativas vegetais sejam promovidas como mais sustentáveis, seus impactos variam, como o desmatamento na produção de soja ou o alto consumo de água no cultivo de amêndoas. Para obter os mesmos nutrientes de um litro de leite, seria necessário consumir maior quantidade de produtos vegetais, aumentando seus impactos ambientais totais.
Modelos como o DELTA Model® destacam a relevância dos lácteos ao considerar cenários globais de produção e consumo, reforçando a necessidade de incluir biodisponibilidade e densidade nutricional nas análises para alinhar saúde humana e sustentabilidade ambiental.
Excluir laticínios da dieta pode ter impacto limitado na redução das mudanças climáticas e trazer consequências nutricionais significativas. Embora sua produção contribua para emissões de GEE, os laticínios são fontes ricas e biodisponíveis de nutrientes essenciais, como cálcio, proteínas de alta qualidade, vitamina D e riboflavina. Estudos mostram que dietas com laticínios fornecem níveis superiores desses nutrientes em comparação com dietas sem eles, sendo difícil compensar a ausência com alimentos vegetais devido à menor biodisponibilidade e quantidade necessária.
Além disso, substituir laticínios por alternativas vegetais nem sempre reduz as emissões de GEE de forma significativa, pois a maior quantidade necessária para atingir o mesmo valor calórico pode anular os benefícios ambientais. Avaliar o impacto ambiental dos alimentos deve incluir não apenas as emissões por quilograma, mas também o valor nutricional que oferecem.
Dietas sustentáveis devem equilibrar aspectos nutricionais, econômicos, ambientais e sociais. O leite destaca-se nesse contexto, sendo competitivo em emissões de gases de efeito estufa (GEE) ajustadas por esses fatores, enquanto produtos vegetais ainda carecem de avaliações equivalentes. Na bioeconomia circular, o leite agrega valor ao reciclar biomassa, sequestrar carbono, preservar solos e pastagens e gerar subprodutos úteis para diversos setores. Sua eficiência proteica supera a de muitos materiais vegetais, reforçando sua relevância.
Além disso, social e economicamente, o setor de laticínios é vital, gerando empregos em comunidades rurais e apoiando pequenas propriedades familiares, frequentemente lideradas por mulheres, em locais de insegurança alimentar. Globalmente, ele sustenta 1 bilhão de pessoas e promove laços comunitários mais fortes do que sistemas centralizados de alternativas vegetais. Culturalmente, os laticínios são integrados a tradições e experiências sociais, simbolizando vínculos comunitários e resiliência cultural.
A sustentabilidade alimentar deve ser guiada pela moderação, evitando o consumo excessivo de qualquer alimento, mesmo os nutritivos como os lácteos, para minimizar impactos na saúde e no meio ambiente. A produção em larga escala para atender a demandas exageradas intensifica a pressão sobre os recursos naturais e as emissões de GEE. Assim, é essencial adotar padrões de consumo equilibrados e conscientes, valorizando a variedade, a sazonalidade e a redução do desperdício, buscando alinhar qualidade nutricional, impacto ambiental e necessidades individuais.
Portanto, conclui-se que embora a produção de laticínios tenha impactos ambientais, sua alta densidade nutricional, biodisponibilidade e contribuição para dietas equilibradas os tornam essenciais para a sustentabilidade alimentar. Além de fornecer nutrientes fundamentais, os laticínios possuem relevante valor social e econômico, especialmente em comunidades rurais. A alimentação sustentável deve equilibrar saúde humana e preservação ambiental, com foco na moderação e escolhas conscientes.
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