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Leites de diferentes espécies

O leite é um alimento importante na alimentação, por possuir diversos macro e micronutrientes que exercem benefícios à saúde humana. Existem no mercado leites de outras espécies, mesmo que em menor escala, os quais são ofertados como uma alternativa ao leite de vaca. Esses leites de diferentes espécies também têm características nutricionais e tecnológicas importantes para a saúde e para a indústria.


O leite é um alimento importante na alimentação, por possuir diversos macro e micronutrientes que exercem benefícios à saúde humana. O leite de vaca é o mais consumido ao redor do mundo e o mais aceito em termos de palatabilidade, além de ser mais acessível financeiramente devido à sua oferta em maior escala, quando comparado aos leites de outros animais. A comercialização do leite de vaca corresponde a aproximadamente 83% do consumo mundial de leite, o que expressa seu amplo consumo. Sabe-se que leites de outras espécies são produzidos, mesmo que em menor escala, e ofertados como uma alternativa ao leite de vaca. Alguns exemplos são os leites de búfala, ovelha, cabra e asna.

O leite humano, primeiro alimento recebido pelo recém-nascido, é considerado o alimento ideal para o consumo humano nos primeiros meses de vida. Ele é composto por água, proteínas, gorduras, carboidratos, ácidos graxos saturados, insaturados, poli-insaturados e colesterol, vitaminas e minerais como sódio, potássio, cálcio, fósforo, magnésio, ferro e zinco. O leite humano possui a proporção mais baixa de caseína para proteína do soro, uma alta proporção de β-caseína para α-caseína e não contém β-lactoglobulina. Os leites de outras espécies com propriedades semelhantes e/ou complementares despertam grande interesse tanto dos consumidores quanto da indústria de laticínios para o desenvolvimento de produtos lácteos especializados, não apenas para bebês, mas também para pessoas de outras faixas etárias.

O leite de ovelha apresenta-se como uma alternativa interessante ao leite de vaca, visto que exerce uma influência positiva no crescimento ósseo, na hidratação da pele, no sistema vascular sanguíneo e na saúde cardíaca. Distinguido pelo seu alto teor de energia, o leite de ovelha se destaca como o depósito mais abundante de proteínas do soro do leite e possui alta concentração de caseína. O tamanho reduzido de seus glóbulos de gordura contribui para uma melhor digestão e um metabolismo mais eficiente, superando a gordura do leite de vaca nesses aspectos. Leite de ovelha e de cabra superam significativamente o leite de vaca nos níveis de ácidos graxos de cadeia curta e média, metabolicamente vantajosos, incluindo ácidos capróico, caprílico, cáprico e láurico. Esse leite também se destaca por quantidades elevadas de ácido butírico, ácido linoleico conjugado (CLA) e ácidos graxos ômega-3, diferenciando-se de outras variedades de leite de ruminantes. Tais compostos têm recebido atenção da comunidade científica pelas suas propriedades funcionais com papel anti-inflamatório e impacto positivo na imunidade, na saúde cardiovascular, na perda de peso, entre outros.

Além disso, o leite de ovelha possui alto teor de vitaminas do complexo B, especialmente a niacina, e serve como um repositório de vitaminas solúveis em água e solúveis em gordura. Leites de cabra e de ovelha superam o leite de vaca em termos de concentração de vitamina A. Peptídeos bioativos que inibem a Enzima Conversora de Angiotensina (ECA) têm recebido atenção especial pelo seu potencial no tratamento da hipertensão. Nos últimos anos, as proteínas encontradas no leite de ovelha e de cabra surgiram como fontes significativas desses peptídeos inibidores da ECA.

O leite de asna é uma alternativa interessante para pessoas que sofrem com alergia à proteína do leite de vaca, devido a sua composição nutricional. O leite de asininos possui quantidade reduzida de caseínas em relação ao leite de vaca e menor alergenicidade. A composição do leite de asna apresenta maior semelhança com o leite humano em comparação com o leite de vaca. Além disso, devido à sua palatabilidade e aos baixos níveis de caseína e outras proteínas, ele é particularmente indicado para crianças que têm alergia à proteína do leite de vaca. O leite de asna contém diversas biomoléculas que desempenham funções importantes, como atividade antimicrobiana (como a lisozima e a lactoferrina), ações anti-inflamatórias e contribuição para o desenvolvimento da microbiota intestinal. Quanto ao perfil nutricional, o leite de asna é caracterizado por baixo teor de gordura, o que resulta em menor teor energético quando comparado ao leite humano. No entanto, uma desvantagem do leite de asna é o seu preço e disponibilidade, decorrentes tanto do número limitado quanto do tamanho reduzido das fazendas produtoras desse tipo de leite.

Um estudo revelou que as caseínas no leite de cabra são digeridas de forma mais rápida do que no leite de vaca. Ensaios clínicos com crianças alérgicas ao leite de vaca mostraram que o uso de leite de cabra resultou em melhorias e foi sugerido como um suplemento alternativo na alimentação infantil devido à menor alergenicidade e melhor digestibilidade em comparação ao leite de vaca. Além disso, o leite de cabra apresenta características distintas, como maior solubilização da β-caseína, tamanho menor de micela, maior teor de cálcio e fósforo e menor estabilidade térmica em comparação com o leite de vaca. Em relação à gordura, o leite de cabra difere na composição de ácidos graxos, exibindo maiores concentrações de ácidos como ácido butírico, capróico, caprílico, cáprico, láurico, mirístico, palmítico e linoleico, enquanto apresenta níveis mais baixos de ácidos esteárico e oleico. O leite de cabra se destaca em elevados níveis de ácidos graxos monoinsaturados (MUFA), poli-insaturados (PUFA) e triglicerídeos de cadeia média (TCM), reconhecidos por seus efeitos positivos na saúde, especialmente em condições cardiovasculares. Isso confere ao leite de cabra um elevado potencial na nutrição humana e em aplicações médicas, como por exemplo no tratamento de distúrbios gastrointestinais.

O leite de búfala é considerado outra alternativa ao leite de vaca devido às suas características e benefícios para a saúde. Esse tipo de leite tem algumas particularidades em termos de composição nutricional e propriedades. O leite de búfala apresentou níveis consideravelmente elevados de lipídios polares em comparação ao leite de vaca, indicando a presença de compostos bioativos que contribuem para as características estruturais de membranas e lipoproteínas. Além disso, o leite de búfala apresenta concentrações significativamente maiores de ácido rumênico - principal forma de ácido linoleico conjugado (CLA) - em comparação ao leite de vaca. Esse achado acrescenta ao perfil nutricional do leite de búfala e é relevante para o consumo desse leite, já que os isômeros de CLA são reconhecidos por suas potenciais propriedades anticarcinogênicas, antiaterogênicas, antiobesidade e antidiabéticas. Estudos também destacaram a capacidade das proteínas do leite de búfala de liberar peptídeos com propriedades inibidoras da ECA e antioxidantes.

Portanto, é evidente que existem várias alternativas viáveis para substituir o consumo de leite de vaca, muitas vezes oferecendo propriedades e compostos bioativos benéficos para a saúde. É necessário levar em consideração fatores econômicos, disponibilidade regional e preferências culturais. As variedades de leites provenientes de diferentes espécies atualmente disponíveis no mercado possuem suas próprias características em termos de composição nutricional e diferenças notáveis em comparação com o leite humano e o leite bovino. No entanto, apesar da vasta gama de opções, é fundamental considerar individualmente cada contexto, limitação e necessidade nutricional com um profissional de saúde para determinar a escolha mais adequada para o consumo.




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